20 de janeiro de 2011

Tempo



Tempo. Sou fascinada pelo Tempo. Pelo poder que o Tempo tem de curar, regenerar, destruir, construir, fazer esquecer, trazer de volta, resgatar. Resgatar sentimentos, memórias, recordações, momentos, toques, palavras, músicas, cheiros e texturas. O Tempo aniquila, une, reúne, faz-nos andar em frente, para trás, tantas vezes para o lado, em linhas ínvias, por atalhos, quantas vezes de formas nebulosas com compassos irregulares. Só o Tempo tem o poder (imenso) de nos fazer compreender a nossa essência, de nos levar a sermos nós próprios, de nos fazer compreender quem somos, porque somos assim, porque razão não somos de outra forma, porque motivo nascemos numa ou noutra família, porque razão queremos ser ou não, mais e melhores, temos ou não coragem para ser alguém diferente com mais ou menos tempo. O tempo - regido por Saturno, o "Senhor do Tempo" - obriga-nos a parar para pensar, refletir, ponderar. Esperar. Obriga-nos a esperar para pensar, refletir, ponderar. Esperar. Obriga-nos a esperar. E esta, é para mim, a implicação mais difícil de todas as "capacidades" do Tempo. O Tempo, que tem o poder de fazer aparecer rugas de expressão, rugas de desilusão, de tristeza, de amargura. Rugas de alegria, de rirmos tanto tempo dos tempos bons que passámos. Do tempo que partilhamos com as pessoas que amamos, que amamos, algumas que já não vemos há algum tempo, outras que preferiríamos deixar de ver por uns tempos, intercaladas por momentos, onde o tempo marca o tempo que mede o que os sentimentos pedem ao tempo do nosso momento. O tempo que demora a fazer o luto de uma perda. O tempo que é preciso para conseguir um "ganho". Como o Amor. O Amor, que o Tempo tem o poder de despertar, fazer crescer até acharmos que já não é possível pedir ao Tempo que nos dê mais momentos de Amor, que nos façam perder a noção do tempo, que acontece quando se ama desmesuradamente como se já não restasse mais tempo. O Tempo, que é aliado da Confiança e da Amizade. Quando se vê o Tempo, como um incremento, não como um contratempo. Tempo para aligeirar, tempo para descomplicar, tempo para circunscrever, para prever o que está escrito, para antecipar e antever o que o Tempo nos traz. Tempo de abundância, tempo de recessão. Tempo de chegarmos a horas, tempo para deixarmos os outros à espera. Tempo para meditar, tempo para deixar andar, deixar fluir. Tempo para usufruir dos sentimentos, dos momentos. O Tempo pode ser nosso amigo, se deixarmos. Da mesma forma que pode estar contra nós. Pode ser engenhoso. Pode conspirar com o Universo. Mas é preciso dar tempo ao Tempo e compreender que o próprio Tempo precisa de tempo para fazer o seu trabalho. É isso, sim: o Tempo, também ele precisa de tempo. O Tempo, que é inabalável, e que deixa marcas de sofrimento, de arrebatamento. Tempo de insistir, de desistir. De nos afastarmos, de abrir mão. De não deixar fugir o que é nosso. De conquistar aquilo que não é nosso. Mas que virá a ser com o tempo. A pressão do Tempo. A pressão que o Tempo faz como uma ampulheta com a areia a medir o tempo que passa. Um "sablier", o meu objeto de eleição. O mistério dos tempos. Os mistérios que só o Tempo ajuda a desvendar. Como as ruínas, como os mistérios antigos, como as civilizações que eram regidas pelo Tempo. O Tempo, que tanto adensa como atenua o prazer, o querer, o desejo, a obsessão. No fundo, mas lá bem no fundo, o que eu gostava era que o Tempo me desse mais tempo, para viver de novo todo o tempo que não aproveitei, que desperdicei, que não apreciei. Mas, que por outro lado, me desse tempo para rever o tempo em que amei, ri, desejei, apreciei, regozijei, brinquei, ponderei, imaginei, admirei tudo e todos os momentos que o Tempo foi o suficientemente generoso e engenhoso para me dar.

É assim o Tempo. Dá e tira. Mas, sobretudo, faz-nos compreender que o uso que damos ao tempo depende do tempo que nos damos a nós próprios. E é preciso Tempo para compreender isso.

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