Depois de uma alegria intensa, de cumprir os desejos, uma coceira nos olhos enterra os olhos: e agora, o que vou fazer? Não há nenhum motivo óbvio para se lutar com garra. Não há dívidas e problemas para se preocupar. Não há um obstáculo, uma doença, uma teimosia, uma conspiração, um ódio. Não há motivo para falar mal de si e dos outros. Nada que seja levado a sério e que imponha uma força extra. A alegria passa a ser previsível, equilíbrio, rotina. Os horários estão ajustados: a musculação de manhã, o inglês de noite, o cinema semanalmente, os jantares e alguma coisa diz que ainda não está bom porque está bom demais.
O tédio prospera com quem conseguiu tudo e com quem nada conseguiu. A precariedade e o fastio são parentes. O tédio é democrático. Enfrenta-se o terror de que depois de uma alegria forte teremos alegrias menores, risos de meia boca. O dia seguinte de um grande amor é uma tristeza só. Um abandono. Depois das alturas, rastejar entre a cama e a cozinha. Raros confessam, porém a cabeça fica nas nuvens, desligada, não sobrando chance de repetir um enlace igual. É insuportável cogitar que acabamos de viver o máximo da existência e ainda assim continuar vivendo para cumprir tabela. Não, ninguém gosta de jogar amistoso, sem o risco de perder feio ou ganhar apertado. Felicidade é não se acostumar com ela. Entende-se o motivo de muitos que jogam fora a felicidade em uma briga ridícula e depois se arrependem. Jogam fora porque são vítimas da alegria, não da tristeza. Querem cobrar o que veio de graça.
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