Eu choro em casamento.Choro em bodas de prata, de ouro. Choro até em cena de casamento de novela, mesmo que nunca tenha visto algum capítulo.Choro porque acho bonito,porque o coração acredita.Mas sou cuidadosa com o casamento.
Casei-me uma vez.Entrei feliz ao som dos Beatles.Durou o tempo que tinha que durar,embora eu pensasse que fosse durar mais.
Mas, a cada dia mais pessoas se casam, mais casais se separam. Meu irmão costuma dizer que o segundo casamento é o que dá certo. Entendi isso depois que me separei. Logo me apaixonei por um homem que também havia sido casado.Vivemos união em casas distintas e, como reza o ritual que não fizemos, a morte nos separou. Mas a experiência anterior ajudou no cuidado que tivemos um com o outro nessa segunda chance. Aprendi lições que o tempo vem confirmando.
Muita gente se casa para os outros, não para si mesmo. Prefiro o amor silencioso e quieto: um sentimento que não foi feito para todo mundo frequentar.
Casamento é a tentativa de fortalecer um laço que tem a fragilidade como essência- e aí mora a sua magia. Deve-se tomar cuidado com a armadilha de ter que ser para sempre. A obrigação é inimiga do desejo. Ignorar a promessa de eternidade talvez seja um bom começo para quem quer ficar junto o resto da vida.
Para uma relação, levam-se problemas, histórias, medos, frustrações. Mas não é essencial casar-se com a fila de banco que o outro teve que frequentar, nem com a irritação depois de um dia de trabalho. É importante dar o colo, mas não se pode ser colo o tempo todo. Dividimos com o outro as coisas difíceis na intenção de que elas se dissipem, não na de que aumentem de tamanho. Se for somar, que sejam as alegrias.
Casamento não é nem pode ser fusão. Um mais um continua sendo igual a um mais um. Cuidado com a vontade de ser dono da outra pessoa-já é tão difícil sermos donos de nós mesmos. O amor é feito de matéria sutil, e seu alicerce é justamente a impossibilidade de "ter" o outro. Quando o outro não está garantido, fazemos mais por ele.É sempre tempo de cultivar a delicadeza.
Muitos só entendem isso depois que se separam. Aí entra o raciocínio de que numa segunda vez, erra-se menos.Quem já se separou certamente sabe o que é viver sozinho. E é preciso saber viver só para viver bem a dois.
Quem vive só se mobiliza para resolver seus problemas, não fica à espera de que o outro o faça. Quem vive só cultiva hábitos próprios,
conjuga os verbos no singular.O plural é lucro.É fundamental preservar a independência, ou a relação se torna um depositário das mazelas e dos problemas mútuos.
Deve haver um jeito de reservar o melhor de nós para o outro e guardar o pior para nós mesmos. Preservar pequenos mistérios que nos mantêm interessantes. Há uma alquimia no exercício da conquista, do cuidado, da atenção.
É preciso cuidar do amor como planta frágil que é. Água demais, sol de menos, muito tempo no canto errado da varanda:tudo isto pode murchar o que antes era exuberante.Para florir, cada planta tem seu jeito.Como cada relação tem seus mistérios.
Não tenho dúvida: o amor é feito e presenças e faltas. E é na falta que se apura a vontade de estar junto.Acordar juntos é gostoso;acordar com saudade também. É que a outra essência do amor é a liberdade: é preciso espaço para ele crescer confortável.
E assim a possibilidade de ver a pessoa amada se apaixonar de novo deixa de ser ameaça para ser sorte:pode ser você a paixão. O encantamento que renasce muitas vezes.
Amor pede rotina. Mas pede a suavidade de não fazer tudo sempre igual. Pede o cultivo da intimidade sem excessos. Amor é construção. Um tijolo a cada dia. É um trabalho que não termina nunca. Talvez seja esse o real significado da expressão "Felizes para sempre".
* Cris Guerra, publicitária e blogueira.
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