13 de dezembro de 2010

SE NÃO TRAUMATIZAR, NÃO VALE


Cá estava eu pensando com meus botões - depois de muito tempo sem dá-los atenção, devido à minha nova rotina insana de maternidade - a respeito daquilo que aprendi, agora que estou na iminência dos meus 30 e alguns anos.

É engraçado, todo mundo fala dessa mudança de cabeça, de maturidade e de perspectiva, que acontece, via de regra, na entrada e desenvolvimento dos trinta. Mas como tudo aquilo que nos disseram na adolescência e nos vinte, tendemos a ignorar como mais um conselho vazio de conteúdo e impossível de ser aplicado à nossa realidade - que as pessoas, simplesmente, não conseguem entender. 

Mas, tcharan!, a mudança, de fato, acontece. A idade traz sentimentos super contraditórios, mas que, surpreendemente, passam a atuar harmonicamente nas nossas vidas. Nunca pensei que adoraria acordar cedo para aproveitar o dia e que estaria desmaiando de sono às 9 da noite, como um dia pensei que apenas velhos faziam. E só agora que entrei nos trinta me acho jovem. Nunca pensei que fosse enxergar meu relacionamento com menos drama, menos decisões 'definitivas' - como aqueles términos absolutos de 24 horas - e com mais tolerância em relação aos defeitos do outro e de mim mesma.

Talvez essa maturidade seja puro cansaço. Depois dos trinta já passamos por um bocadinho de experiências válidas e de aprendizado. Então, nem gastamos mais nossa energia com aquelas situações onde é possível prever o resultado. Pra quê chorar a cada aniversário se a velhice vai chegar e pronto?

Agora, o que essa divagação tem a ver com o título do texto? Bom, é que pensando sobre esse assunto, reparei que aquilo que eu aprendi de verdade, aquilo que ficou realmente sedimentado na minha personalidade, foi fruto de experiências repetidamente falhas. 'Dar murro em ponta de faca' uma vez atrás da outra. Foi assim que aprendi. Com trauma!

Por que será que não aprendi sobre as diferenças reais das naturezas masculinas e femininas aos treze anos, quando o primeiro babaca me mostrou que o mundo é cruel e nada romântico?? Por que tive que passar por isso mais e mais vezes, até meus vinte e tantos anos, no mínimo, para, então, dentro do meu relacionamento mais longo continuar cometendo os mesmos erros, para somente agora, na casa dos 30, cansar de tentar mudar meu dito cujo, ou de brigar por tudo e qualquer coisa?

Por que será que tive que ser maltratada e traída por colegas de trabalho, a quem julguei serem 'amigos de verdade', até perceber que colegas de trabalho devem ser colegas de trabalho. Que por mais que você possa até compartilhar uma ou outra informação a respeito da sua vida fora do ambiente profissional, é sempre melhor deixar aquele espacinho individual, já que nunca se pode prever a reação louca, desmedida, e bandida daqueles que te dizem 'te adoro', ao mesmo tempo em que te veem como concorrência.

Por que será que tive que brigar tanto com a minha mãe, me revoltar tanto com o jeito dela, com seus conselhos, com sua intromissão e com sua negligência (da minha perspectiva), até entender que ela é simplesmente um ser humano que fez o que deu conta de fazer por mim e que, aliás, já foi muitão? Brigas, períodos de afastamento, ódio, para entender, finalmente, que a família jamais vai te preencher totalmente, e te fazer feliz do jeito que você quer.

Aliás, por que tanta terapia para entender  que quase nada vai acontecer do jeito que a gente quer. E que auto-estima não tem nada a ver com sucesso, com auto-imagem, e sim com um profundo respeito por mim mesma, no sentido de que eu sou feliz como posso, não necessariamente como eu quero, mas que isso é suficiente, sim. E nem preciso me achar bonita todo dia, de bem com a vida todo dia, prestativa todo dia, para achar que mereço proteção, carinho, saúde, e várias coisas boas que eu conseguir obter da vida.

Enfim, a ideia é entender por que só depois de muuuuuuuuuuuita luta, muuuuuuita quebrada de cara, muuuuuuuito murro em ponta de faca, e muuuuuuuuuuuuuita cicatrização é que conseguimos de verdade assentar esse conhecimento emocional nas nossas cabecinhas. 

Bom, talvez só eu seja assim tão lenta. Mas foi bom chegar até aqui de qualquer maneira.

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