13 de dezembro de 2010

SOLIDÃO

É engraçado notar como fazemos de tudo para não demonstrar certos sentimentos. Ciúme e inveja, por exemplo, são emoções que nos dão um pouco de vergonha. Então fazemos de tudo para disfarçá-los. Também nunca tive coragem de ligar para alguém num momento de solidão e dizer ‘estou solitária, podemos sair?’. A sensação é de que estaremos expondo uma fraqueza insuperável, sendo que, na verdade, todo mundo já se sentiu só na vida.

Não estou falando daqueles momentos em que estamos curtindo uma onda sozinhos. Adoro ir ao supermercado sozinha à tarde, por exemplo. Ou chegar da rua cansada e curtir um momento largada no sofá na frente da tv, sem ninguém interferir.

Mas em alguns momentos da minha vida, já me senti solitária, de verdade. E isso nem quer dizer que estivesse sozinha. Muito pelo contrário. A solidão mais intensa é aquela que se sente no meio de uma multidão. Quando mesmo cercado de pessoas, nos sentimos desconectados do resto do mundo. Ninguém nos entende, ninguém nos ama, ninguém nos enxerga na solidão. Essa é a sensação que temos.

Esse sentimento também não tem hora para nos atingir. Podemos estar seguindo um curso tranqüilo de vida, até mesmo acompanhados, quando, de repente, sentimos que as companhias que nos cercam não nos preenchem, não nos entendem, não se conectam mais com a gente. É claro que não é responsabilidade de ninguém satisfazer nossas mudanças emocionais o tempo todo. Mas é exatamente por isso que cheguei à conclusão de que a solidão tem muito mais a ver com nosso estado de espírito do que com as ações do outros em relação a nós.

Parando para pensar, percebi que as vezes em que achei que ninguém me entendia, tiveram mais a ver com o fato de que minhas expectativas quanto à tolerância e o apoio do outro não foram atendidas, do que com a postura real da outra pessoa.

A solidão amorosa, por exemplo, tem muito mais a ver com a indisposição de se fazer concessões, de se abdicar de expectativas irreais e de ver os relacionamentos com menos idealização, do que, de fato, pela ausência de um parceiro no mundo.

Cara, num mundo de 7 bilhões – mesmo que você tire os feios e chatos – não é possível que não há ninguém para você. A solidão pode ser uma jaula na qual você mesma se coloca. Se o cara não é ‘perfeito’, você não dá bola. Mas não é só perfeição que vai ao cinema com você, segura na sua mão, e te abraça numa hora de chateação.

Essa é a grande sacada da solidão. Ela acontece quando nós não estamos abertos para lidar com o mundo de maneira madura, realista. Aí, ficamos em casa, isolados, idealizando um namoro, imaginando amizades perfeitas, colegas de trabalho perfeitos, famílias perfeitas. Por isso, tomem muito cuidado. A solidão pode virar, simplesmente, o mau hábito de não se aceitar as falhas do mundo em relação a suas expectativas.

Faça um esforço. Ligue para alguém e diga ‘preciso sair. Preciso de companhia e de conversar.’ Pode ser embaraçoso no primeiro momento, mas quem sabe a pessoa para quem você ligou também estava louca por uma parceria. Assuma sua parcela de culpa na sua própria solidão e bola pra frente.

“Pessoas precisam de pessoas, Steve. Não tem nada a ver com sexo. Bom, talvez 40 por cento. Hum, 60 por cento. Esquece, esquece.” Do filme ‘Vida de Solteiro’.

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